quarta-feira, 24 de outubro de 2012

Porco ao vinho e alhos!

Em Portugal, onde estive por 5 meses, a carne bovina não é tão consumida quanto aqui no Brasil. Um dos motivos deve ser a elevada disponibilidade de pastos naturais no Brasil o que, desde o período colonial deve ter favorecido a criação de bovinos nos pampas, nos campos de altitude, nos cerrados e na caatinga. Já no pequeno e pedregoso Portugal, as possibilidades são mais restritas. Outro motivo logo notado foi o sabor da carne: em Portugal ela possui um cheiro forte e não há tempero que consiga dar sabor a ela!

Talvez por isso o país tenha uma tradição de comer de tudo, menos carne bovina. Lá peixes e porcos reinam em absoluto. Embora eu não goste de peixe, eu como carne suína; ainda que não seja a minha preferida. Mas a carne suína portuguesa, ao contrário de seus bovinos, tem um sabor maravilhoso e é muito macia. Portanto, era a carne do dia a dia.

Juntando o porco com outro ponto forte de Portugal, o vinho, fiz um porco com vinho e alho.

Primeiro deixei os bifes - não sei dizer de que parte do porco ele vem - marinando em vinho português tinto, alho amassado, cebola, sal, pimenta do reino, salsinha e cebolinha (cebolinhos, em Portugal).

Enquanto o porco marinava na geladeira, eu e Hélio - que dividia apartamento comigo em Lisboa - achamos que aquele porco português merecia a companhia de uns amigos brasileiros. Pusemos na cabeça de que queríamos mandioca. Mas onde acharíamos mandioca em Lisboa? Achamos em um hipermercado, o Continente. Nos disseram que a mandioca era uma raiz africana! Bem, em Lisboa os migrantes oriundos das antigas colônias portuguesas na África são os grandes consumidores de mandioca, mas os portugueses se esqueceram de que a mandioca é uma raiz típica da América do Sul e que foram eles que a levaram para suas colônias africanas, de onde eles importam atualmente.

No mesmo hipermercado esbarramos em couve portuguesa já picada. Uma paranaense que ali encontramos nos disse que a couve portuguesa era bem diferente da nossa, mas pagamos para ver.

De volta para casa, dourei alguns dentes inteiros de alho em azeite - outra iguaria abundante n'Além-mar - e reservei. No mesmo azeite, grelhei os bifes de porco, até ficarem bem dourados. Depois disso, coloquei o líquido da marinada sobre os bifes, juntamente com os dentes de alho torrado e deixei encorpar. Fiz a receita algumas vezes e o caldo ficou ralo. Tive a ideia de incorporar miolo de pão - há um pão local denominado caralhotas, usei esse.

Da mandioca que trouxemos, metade estava podre (era caríssima!). Uma curiosidade: como ela vem de longe, de algum lugar da África que não souberam nos precisar, eles retiram a terra da raiz e mergulham era em parafina, algo bem estranho para os brasileiros acostumados a colhê-las no fundo do quintal. Cozinhei os pedaços em água salgada e, depois, misturei os pedaços já cozidos a um refogado de manteiga, azeite, cebola picada e cheiro-verde.

A couve portuguesa refoguei brevemente em azeite com alho dourado e uma pitadinha de sal. Para finalizar, um arroz branco à moda brasileira e uma saladinha de tomates com azeite, sal, limão e cheiro verde. Acompanhou o prato, ainda, uma farofa pronta - brasileira - vendida no hipermercado.

O porco português combinou bem com as companhias brasileiras. E a couve portuguesa tem o mesmo sabor da nossa.



Sílvio Barbosa